A síndrome de Asherman é uma condição rara, caracterizada pela eliminação total ou parcial da cavidade uterina e/ou do canal cervical devido à presença de aderências fibrosas, e que se manifesta por alterações menstruais, infertilidade, abortos repetidos e, eventualmente, dor pélvica crónica. Estas aderências intrauterinas são “cicatrizes” que ocorrem no revestimento interno do útero (endométrio) reduzindo a sua superfície e constituindo uma possível causa de infertilidade feminina. A síndrome de Asherman é uma condição debilitante devido à dor, abortos e infertilidade e ao sofrimento psicológico associado. Diferentes abordagens terapêuticas têm sido adotadas para o seu tratamento dependendo da localização e da extensão do problema. No entanto, os procedimentos cirúrgicos sob controlo visual têm sido considerados um dos métodos de eleição para o tratamento desta condição. Em casos graves, a recorrência destas cicatrizes é elevada e outros tratamentos são necessários. Foi anteriormente demonstrado que as células estaminais de várias fontes podem contribuir para a reparação e regeneração do endométrio. Assim, um grupo de investigadores testou uma nova abordagem em doentes com esta síndrome, baseada na utilização de células estaminais mesenquimais (MSCs) do tecido do cordão umbilical. Neste contexto, foram recentemente, publicados os resultados de um ensaio clínico que pretendia avaliar a segurança e a eficácia da utilização de MSCs do tecido do cordão umbilical em doentes com aderências intrauterinas recorrentes.
Vinte e cinco doentes que sofriam de infertilidade devida a aderências intrauterinas recorrentes foram incluídas neste ensaio clínico de fase I, tendo sido seguidas por um período de 30 meses. As MSCs do tecido do cordão umbilical, em suporte de colagénio, foram transplantadas na cavidade uterina, após a remoção cirúrgica das aderências. A história clínica, o exame físico, a espessura endometrial, o número de aderências intrauterinas e a proliferação e diferenciação do endométrio foram avaliados antes e 3 meses após a terapia celular. Não foram observados efeitos adversos graves relacionados com o tratamento. Três meses após o tratamento, a média da espessura endometrial máxima aumentou, e o número de aderências intrauterinas diminuiu. Registou-se ainda uma melhoria na proliferação, diferenciação e neovascularização(formação de novos vasos sanguíneos) do endométrio após o tratamento. No final do período de acompanhamento, dez doentes já tinham conseguido engravidar, oito das quais já tinham tido os seus bebés, uma doente encontrava-se ainda no terceiro trimestre de gravidez e a outra teve um aborto espontâneo às 7 semanas. Este estudo mostrou a segurança e eficácia do transplante na cavidade uterina de MSCs do tecido do cordão umbilical em suporte de colagénio após cirurgia de remoção de aderências intrauterinas recorrentes. Recorrendo ao uso de MSCs do tecido do cordão umbilical e aumentando a duração do contacto destas com a área lesada do endométrio pelo uso de um suporte de colagénio, a capacidade de proliferação e de diferenciação endometrial melhoram significativamente. Estes resultados sugerem um futuro promissor para doentes com síndrome de Asherman para quem outros tratamentos tenham falhado. Ensaios clínicos num número mais alargado de doentes permitirão confirmar se esta abordagem terapêutica se poderá instituir para tratar doentes com esta patologia.