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Células estaminais no tratamento de lesões dentárias após trauma
20.11.2018

Os dentes são compostos por três estruturas principais: o esmalte, a dentina e a polpa. O esmalte e a dentina são tecidos mineralizados, com funções mecânicas e protetoras. Apolpa ocupa a parte central do dente e é constituída por tecido conjuntivo não mineralizado, ricamente inervado e vascularizado. Esta estrutura desempenha funções nutritivas, defensivas, sensitivas e reguladoras, o que a torna essencial para a vitalidade dos dentes. Após traumas violentos pode ocorrer necrose da polpa dentária. Esta condição caracteriza‑se por um conjunto de alterações que se traduzem na falência de todo o sistema vascular e nervoso da polpa dentária, sendo a idade um fator de risco. Devido à imaturidade no desenvolvimento da raiz dentária, os jovens apresentam maior probabilidade de necrose após trauma. Quando tal acontece, recorre-se atualmente a procedimentos cirúrgicos que tentam minimizar os danos, no entanto estes são incapazes de promover a regeneração do tecido necrótico da polpa.

Estudos recentes, em modelos animais, demonstram que é possível regenerar o tecido vascular da polpa dentária com recurso a terapias celulares. As células estaminais mesenquimais (MSCs, mesenchymal stem cells) são células multipotentes que se podem diferenciar em vários tipos celulares, como células neuronais, entre outros. As MSCs podem ser isoladas de várias fontes incluindo os dentes, a médula óssea e o cordão umbilical. Estas células exibem uma elevada capacidade proliferativa, aliada a funções imunomodeladoras e de regeneração de tecidos.

 

Células estaminais mesenquimais de origem dentária regeneram a polpa dentária necrótica em doentes após trauma

Recentemente, foram publicados os resultados de um ensaio clínico de fase 1 que teve como objetivo avaliar a tolerância e segurança da implantação de células mesenquimais, de origem dentáriano tratamento de polpa dentária necrótica. Os doentes incluídos no ensaio, com idades compreendidas entre 7 e 12 anos, apresentavam o tecido da polpa dentária em necrose após trauma. A dez dos jovens do grupo controlo foi efetuado o procedimento standard para este tipo de condição e aos restantes (30) foram implantadas MSCs de origem dentária do próprio doente. Os dois grupos foram acompanhados durante 24 meses, não tendo sido observados sinais de rejeição ou inflamação após os procedimentos efetuados. Ao fim de 6, 12 e 24 meses verificou-se a regeneração progressiva do tecido da polpa dentária, com evidente formação das estruturas características deste tecido nos doentes tratados com MSCs. Tais resultados não se verificaram nos doentes intervencionados com o procedimento habitual. O desenvolvimento das raízes ocorreu após ambos os procedimentos, porém, foi muito mais expressivo nos doentes aos quais foram implantadas MSCs.

Estes resultados sugerem que a implantação autológa de MSCs é uma abordagem segura no tratamento destas lesões. Pela capacidade regenerativa demonstrada e tendo sido observado que os resultados se mantiveram após 24 meses, esta abordagem poderá ser uma opção de tratamento para lesões dentárias após trauma, e vir a constituir uma alternativa aos procedimentos usados habitualmente. Contudo, serão necessários mais estudos para aferir a total segurança e eficácia desta abordagem terapêutica.

Referência:

Xuan K et al., Deciduous autologous tooth stem cells regenerate dental pulp after implantation into injured teeth. Sci Transl Med. 2018 Aug 22;10(455). pii: eaaf3227. doi: 10.1126/scitranslmed. aaf3227.

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