A anemia aplástica é uma doença rara e grave, que ocorre quando a medula óssea deixa de produzir células sanguíneas suficientes, provocando anemia, hemorragias e infeções. A maior parte dos especialistas acredita que a anemia aplástica surge quando o sistema imunitário ataca e destrói as células estaminais da medula óssea necessárias para a renovação das células sanguíneas. A produção de células sanguíneas pode ser restaurada por terapêutica imunossupressora ou pelo transplante de células estaminais hematopoiéticas. A terapêutica imunossupressora e o transplante de medula óssea entre irmãos compatíveis têm sido descritos como os principais tratamentos para esta doença. No entanto, mesmo recorrendo ao transplante de medula óssea entre irmãos compatíveis, persiste o risco de rejeição e de outras complicações que podem por em causa a vida destes doentes. Para além disso, na ausência de um dador compatível ou quando a terapêutica imunossupressora falha, a condição destes doentes torna‑se problemática.
Um artigo científico recente descreve o sucesso do tratamento de duas crianças, de 15 e 24 meses de idade, com anemia aplástica grave, por recurso ao transplante autólogo de sangue de cordão umbilical combinado com imunossupressão. Num dos casos, a equipa médica que seguia a criança optou inicialmente por uma terapêutica imunossupressora, que não foi bem-sucedida. Ambas as crianças estavam dependentes de transfusões sanguíneas diárias e não tinham irmãos que pudessem ser dadores de medula óssea. Dado que ambas tinham o seu sangue do cordão umbilical guardado num banco privado, após tratamento para destruição da medula óssea doente, foram transplantadas com o seu próprio sangue do cordão umbilical, criopreservado à nascença. Ambas receberam tratamento com um medicamento imunossupressor, durante 12 meses após o transplante. As duas crianças permanecem livres de doença seis anos após o transplante. Para os autores deste artigo científico, estes dois casos, juntamente com outros, também descritos em artigos científicos, evidenciam a utilidade do transplante autólogo de sangue do cordão umbilical, se disponível, para crianças com anemia aplástica grave adquirida, em quem tenha falhado a terapêutica imunossupressora e que não tenham um irmão compatível. Para além disso, os autores recomendam a expansão do programa de colheita de sangue do cordão umbilical, uma vez que esta fonte de células estaminais poderá ser benéfica para um grande número de doentes, incluindo crianças com anemia aplástica grave.
Referências:
Successful long-term hematological and immunological reconstitution by autologous cord blood transplantation combined with post-transplant immunosuppression in two children with severe aplastic anemia. Georgia et al., Pediatr Transplant. 2018 Nov 8:e13320.