As queimaduras são lesões muito frequentes que afetam, anualmente, milhões de pessoas. A sua extensão e profundidade determinam a severidade da lesão e o tipo de cuidados a ter a nível hospitalar. No caso de queimaduras profundas, a principal preocupação é o restabelecimento da barreira cutânea, para evitar desidratação e infeção por agentes patogénicos. Atualmente, é possível fazer enxertos de pelepara cobrir as áreas lesadas e ajudar à regeneração dos tecidos, no entanto, se se tratar de uma região muito extensa, pode ser difícil cobrir toda a área.
O Hospital Coromoto, em Maracaibo, na Venezuela, em colaboração com o Instituto Venezolano de Investigaciones Científicas, está a levar a cabo um projeto experimental para o tratamento de feridas resultantes de queimaduras graves, utilizando uma metodologia que recorre ao uso de células estaminais mesenquimais. Esta metodologia consiste na implantação de células estaminais mesenquimais na área afetada pela lesão, com o objetivo de promover a regeneração das várias camadas da pele, sem necessidade de enxertos. Esta tecnologia envolve a expansão, em laboratório, de células estaminais mesenquimais obtidas a partir de medula óssea e a sua posterior aplicação num gel, no local da lesão. O objetivo é acelerar a regeneração dos tecidos e, consequentemente, reduzir o tempo de recuperação dos doentes, relativamente aos métodos de tratamento tradicionais, minimizando, assim, o risco de infeções a que estes doentes estão sujeitos.
Em dezembro de 2016, três crianças, de 2, 4 e 6 anos, que apresentavam queimaduras de 2º e 3º grau em até 50% do corpo, foram tratadas no Hospital Coromoto, recorrendo a esta metodologia, com resultados muito favoráveis. Mais recentemente, em fevereiro de 2017, foi tratada uma criança de 10 anos com queimaduras de 2º grau em 60% do corpo e também um doente adulto, de 72 anos. A equipa clínica responsável considerou os resultados muito promissores e estima-se que, no decorrer deste ano, no Hospital Coromoto, mais de 30 pessoas possam beneficiar desta nova abordagem terapêutica, que permite uma recuperação mais rápida deste tipo de doentes, bem como a diminuição das sequelas associadas às lesões sofridas.
Fontes:
Rowan MP, Cancio LC, Elster EA, et al. Burn wound healing and treatment: review and advancements. Critical Care. 2015;19:243. doi:10.1186/s13054-015-0961-2.