O buraco macular é uma das doenças oculares mais comuns, atingindo 3 em cada 1000 pessoas. Esta doença afeta a mácula, que é a área central da retina, responsável pela visão nítida. É nesta área que se encontra a maior concentração de células visuais, tornando-a essencial para a definição e nitidez necessárias em atividades como a leitura, a escrita e a condução automóvel. Esta lesão ocorre quando o humor vítreo (estrutura gelatinosa que ocupa cerca de 80% do conteúdo do globo ocular) se desloca formando um buraco na fóvea (área central da mácula). Ainda não são conhecidas as suas causas, no entanto, fatores como idade, miopia severa e traumas físicos violentos poderão estar na origem da contração do humor vítreo separando-o assim da mácula. O procedimento cirúrgico mais comumente utilizado para tratar este problema é a vitrectomia (termo geral para designar um grupo de operações que visam remover parte ou a totalidade do vítreo). Atualmente, esta técnica permite fechar 98% dos buracos maculares com um tamanho inferior a 400 µm. Contudo, para buracos maculares com tamanho superior e/ou de longa duração (> 6 meses) este procedimento demonstra pouca eficácia.
As células estaminais mesenquimais (MSCs, Mesenchymal Stem Cells) são atualmente reconhecidas pelas suas capacidades anti-inflamatórias, imunomodeladoras, neuroprotetoras e de regeneração de tecidos danificados. Estudos recentes sugerem que as capacidades terapêuticas destas células se devem, em parte, à libertação de pequenas vesículas (“bolsas/bolhas”). Estas vesículas, cientificamente referidas como exossomas, possuem no seu interior moléculas bioativas (proteínas e RNAs) passíveis de serem transferidas entre células, o que constitui um mecanismo importante na reparação de tecidos. As MSCs e os exossomas delas derivados (Exos-MSCs) têm vindo a ser testados, com sucesso, no tratamento da inflamação, lesão e degeneração da retina.
Recentemente, foram publicados os resultados de um ensaio clínico piloto que pretendeu avaliar os efeitos da injeção de MSCs (derivadas do tecido do cordão umbilical) e dos seus exossomas no fecho de buracos maculares, após vitrectomia. O grupo de doentes tratados, constituído por sete pessoas, maioritariamente do sexo feminino, com idades compreendidas entre 51 e 77 anos, apresentava buracos maculares com tamanhos superiores a 400 µm há mais de um ano. Estes doentes foram submetidos às cirurgias habituais para o tratamento desta lesão, efetuando-se de seguida a injeção de MSCs a dois dos doentes, tendo aos restantes sido administrados apenas Exos‑MSCs. Nos doentes tratados com MSCs o buraco macular fechou. Contudo, num deles formou-se uma membrana fibrótica na superfície da retina, o que poderá ter consequências graves para a mesma (como deslocamento da retina). Nos doentes que receberam apenas Exos-MSCs ocorreu o fecho do buraco macular, sem outras complicações. Os doentes revelaram ainda uma melhoria da função visual.
Este estudo evidencia que é a transferência de conteúdo entre os exossomas e as células da retina, e não propriamente a integração celular das MSCs, que promove a regeneração do tecido lesionado. Desta forma, a utilização de exossomas de MSCs do tecido do cordão umbilical poderá ser uma estratégia promissora para o tratamento de doenças da retina. Sumariamente, os resultados deste ensaio clínico sugerem que a injeção de Exos‑MSCs, após os procedimentos cirúrgicos habituais, pode promover o fecho de buracos maculares grandes (>400 µm) e de longa duração.
Referência:
Zhang X et al., Effects of mesenchymal stem cells and their exosomes on the healing of large and refractory macular holes. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2018 Aug 30. doi: 10.1007/s00417-018-4097-3. [Epub ahead of print]