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3.10.2018
Células do cordão umbilical no tratamento de lesões oculares

buraco macular é uma das doenças oculares mais comuns, atingindo 3 em cada 1000 pessoas. Esta doença afeta a mácula, que é a área central da retinaresponsável pela visão nítida. É nesta área que se encontra a maior concentração de células visuais, tornando-a essencial para a definição e nitidez necessárias em atividades como a leitura, a escrita e a condução automóvel. Esta lesão ocorre quando o humor vítreo (estrutura gelatinosa que ocupa cerca de 80% do conteúdo do globo ocular) se desloca formando um buraco na fóvea (área central da mácula). Ainda não são conhecidas as suas causas, no entanto, fatores como idade, miopia severa e traumas físicos violentos poderão estar na origem da contração do humor vítreo separando-o assim da mácula. O procedimento cirúrgico mais comumente utilizado para tratar este problema é a vitrectomia (termo geral para designar um grupo de operações que visam remover parte ou a totalidade do vítreo). Atualmente, esta técnica permite fechar 98% dos buracos maculares com um tamanho inferior a 400 µm. Contudo, para buracos maculares com tamanho superior e/ou de longa duração (> 6 meses) este procedimento demonstra pouca eficácia.

As células estaminais mesenquimais (MSCs, Mesenchymal Stem Cells) são atualmente reconhecidas pelas suas capacidades anti-inflamatórias, imunomodeladoras, neuroprotetoras e de regeneração de tecidos danificados. Estudos recentes sugerem que as capacidades terapêuticas destas células se devem, em parte, à libertação de pequenas vesículas (“bolsas/bolhas”). Estas vesículas, cientificamente referidas como exossomas, possuem no seu interior moléculas bioativas (proteínas e RNAs) passíveis de serem transferidas entre células, o que constitui um mecanismo importante na reparação de tecidos. As MSCs e os exossomas delas derivados (Exos-MSCs) têm vindo a ser testados, com sucesso, no tratamento da inflamação, lesão e degeneração da retina.

 

EXOSSOMAS DERIVADOS DAS CÉLULAS ESTAMINAIS MESENQUIMAIS PROMOVEM O FECHO DE BURACOS MACULARES

Recentemente, foram publicados os resultados de um ensaio clínico piloto que pretendeu avaliar os efeitos da injeção de MSCs (derivadas do tecido do cordão umbilicale dos seus exossomas no fecho de buracos maculares, após vitrectomia. O grupo de doentes tratados, constituído por sete pessoas, maioritariamente do sexo feminino, com idades compreendidas entre 51 e 77 anos, apresentava buracos maculares com tamanhos superiores a 400 µm há mais de um ano. Estes doentes foram submetidos às cirurgias habituais para o tratamento desta lesão, efetuando-se de seguida a injeção de MSCs a dois dos doentes, tendo aos restantes sido administrados apenas Exos‑MSCs. Nos doentes tratados com MSCs o buraco macular fechou. Contudo, num deles formou-se uma membrana fibrótica na superfície da retina, o que poderá ter consequências graves para a mesma (como deslocamento da retina). Nos doentes que receberam apenas Exos-MSCs ocorreu o fecho do buraco macular, sem outras complicações. Os doentes revelaram ainda uma melhoria da função visual.

Este estudo evidencia que é a transferência de conteúdo entre os exossomas e as células da retina, e não propriamente a integração celular das MSCs, que promove a regeneração do tecido lesionado. Desta forma, a utilização de exossomas de MSCs do tecido do cordão umbilical poderá ser uma estratégia promissora para o tratamento de doenças da retina. Sumariamente, os resultados deste ensaio clínico sugerem que a injeção de Exos‑MSCs, após os procedimentos cirúrgicos habituais, pode promover o fecho de buracos maculares grandes (>400 µm) e de longa duração.

Referência:

Zhang X et al., Effects of mesenchymal stem cells and their exosomes on the healing of large and refractory macular holes. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2018 Aug 30. doi: 10.1007/s00417-018-4097-3. [Epub ahead of print]

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